Não é o caso do senhor da fotografia acima mas há aí uma espécie rara a pairar em tudo o que é crónica de revista, de jornal, blogues ou comentaristas fast-food da nossa querida e morta televisão: os Especialistas.
Percebo que alguns não têm rigorosamente nada para fazer e outros nunca fizeram rigorosamente mais nada mas, mesmo assim, eu tenho uma pergunta pertinente:
As amigas e os amigos coloridos hoje são o maior escape de uma geração sem tempo, sem amor para dar, sem perspectivas, sem contrato de trabalho e sem a noção de compromisso afectivo. Os “fuck budies” são o update de ter o que queremos por muito menos, à distancia de um sms ou de uma chamada de um minuto. Fará isto algum sentido? Durante pouco tempo, talvez faça. O tempo faz com que amizades coloridas passem rapidamente a preto e branco e os “fuck budies” passem a ser “fuck you! budies”. Este é o maior problema.
Com isto tudo gera-se ódios por alguns e amores por tantos outros. Sendo que os ódios são ditos e revelados, já os amores são perseguidos. Num arco íris de relações sem compromisso, querem sempre pintar mais uma cor e há sempre um que não quer. “Onde foste? Com quem? Não quiseste vir ter comigo porquê? Já há uma semana que não nos envolvemos...” Este tipo de declarações contêm uma dose não recomendada de compromisso. É certo e sabido. Mas mesmo dizendo que nunca passará daquilo, há sempre alguém que no fundo acredita que vai dar. Isto vem das prioridades que a nossa geração trocou: antigamente para ter relações sexuais com alguém era preciso casar, hoje basta ter saldo e bateria no telemóvel. Estes valores foram trocados por uma vida mais independente, mais livre de compromisso e mais “eu”. Cultivamos o “eu”, coisa que muitos dos nossos avós e pais não puderam fazer e viveram arrependidos, embora tivessem ganho outros valores. Nós estamos perante uma geração de consumo imediato, como os Táxi cantavam em “Chiclete” que prova, mastiga e deita fora sem demora.
Hoje queremos amizades para sempre, amores impossíveis e sexo na hora. Tudo na mesma embalagem. Não podemos perder mais tempo, queremos o consumo a que temos direito porque caso contrário, queremos o livro de reclamações e vamos para outro sítio fazer a festa, que nunca pode parar.
No fundo, as amigas/amigos coloridos e os “fuck budies” são tal e qual aquelas letrinhas dos seguros que nunca ninguem as lê, mas que estão sempre lá para consulta de todos.